O governo brasileiro apresentou, nesta quinta-feira (19), na cidade de Bonn, na Alemanha, um plano para estruturar o financiamento climático internacional rumo à COP30, que ocorrerá em 2025 em Belém, no Pará.

Intitulado “Roadmap de Baku a Belém”, o documento foi apresentado durante a conferência da UNFCCC — principal reunião preparatória antes da COP, agora sob presidência do Brasil.

A proposta foi exposta pela embaixadora Tatiana Rosito, representante do Ministério da Fazenda e do ministro Fernando Haddad, que lidera o Círculo de Ministros de Finanças da COP30.

Segundo Rosito, o roteiro está sendo bem recebido por diversas delegações e deverá funcionar como base concreta para viabilizar as decisões das próximas conferências climáticas, vinculando-as às políticas macroeconômicas dos países.

Mobilização trilionária

“Este Roadmap é um espaço para construir caminhos para a mobilização de 1,3 trilhão de dólares em financiamento climático. Nosso objetivo é produzir um relatório claro, crível e acionável, que sirva como guia para a implementação futura de decisões que dependem, em muitos casos, dos ministros das Finanças”, afirmou a embaixadora.

Ela destacou a necessidade de tornar o financiamento climático acessível aos países em desenvolvimento, promovendo maior articulação entre política ambiental e econômica.

O plano está aberto à consulta pública de países e instituições parceiras, com previsão de consolidação para a COP30.

Arquitetura financeira em debate

Ana Toni, CEO da COP30, também comentou a repercussão do plano brasileiro nas reuniões em Bonn. Para ela, o projeto tem papel central na discussão atual e representa um passo importante na reformulação da arquitetura financeira global.

“Precisamos garantir outros instrumentos econômicos. Os países em desenvolvimento necessitam tanto da transição energética quanto de recursos para conservar florestas, oceanos e outros ecossistemas”, declarou.

Simon Stiell, secretário executivo da UNFCCC, reforçou a urgência de ampliar o financiamento climático e defendeu mudanças concretas.

“Temos uma meta clara: escalar o financiamento. Sabemos o que é necessário: expandir subsídios e instrumentos não baseados em dívida, simplificar o acesso e alavancar capital estratégico. Agora precisamos agir”, afirmou.

Propostas e eixos do plano

O Círculo de Ministros de Finanças da COP30, que reúne atualmente 32 países, vem discutindo o plano desde abril, durante as Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional. A conclusão do documento está prevista para outubro, na próxima reunião anual do FMI.

Em entrevista recente à CNN, Tatiana Rosito afirmou que os Estados Unidos ainda não integram o círculo de discussão, mas acrescentou que “serão muito bem-vindos” caso decidam participar.

Entre os principais eixos da proposta estão:

Reforma dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento, como o FMI e o Banco Mundial, com foco na ampliação de crédito por meio de balanços mais eficientes e capital contingente.

Ampliação de financiamentos com condições especiais para países em desenvolvimento, sobretudo para adaptação e compensações por perdas climáticas.

Criação de plataformas nacionais que conectem projetos locais a investidores internacionais, com mecanismos de garantias para mitigação de riscos, como variações cambiais.

Propostas regulatórias para o setor financeiro, incluindo precificação de carbono e fiscalização climática por parte de bancos centrais.

“Talvez não tenhamos visto uma oportunidade como esta nos últimos 200 anos”, observou Rosito, destacando a relevância histórica do processo.

Ela concluiu: “Todas as prioridades estão interligadas e serão cruciais para mobilizar o 1,3 trilhão de dólares. Nosso compromisso é oferecer um documento estruturado, com recomendações concretas e exemplos de ações. Contamos com o apoio de todos para tornar este processo inclusivo e eficaz”.